terça-feira, 29 de outubro de 2013

De Brasília - por Nilo Dias - Jornalista

Música sertaneja
A recente apresentação de cantores sertanejos na Exposição Feira de São Gabriel é motivo de preocupação, pois coloca em risco o futuro da nossa música tradicionalista. É pena que uma instituição como o Sindicato Rural, que deveria ser voltada para a defesa dos ruralistas, tenha investido em artistas “alienígenas”, que nada tem a ver com a nossa cultura. Sei que as apresentações deles agradaram o público, e nem poderia ser diferente, pois realmente são artistas qualificados.


Mas não é isso que eu contesto. Sim a presença deles em detrimento da contratação de valores da música do Rio Grande do Sul, que não é tocada lá fora. Então porque temos que dar valor a quem não nos valoriza? A continuar assim, com investidas desse tipo de parte de quem deveria defender nossos hábitos, costumes e tradições, o que nos espera lá adiante não é nada alentador.
Eu, nas últimas vezes que estive em São Gabriel, já havia notado a evolução do mercado musical sertanejo em nosso meio. Pelas ruas são vendidos livremente CDs. Nos bares e clubes tocam música sertaneja. E por incrível que pareça até no Galeto do meu amigo Brito, vi o telão com enormes imagens de Bruno e Marrone.
Até comentei em uma de minhas colunas, na ocasião, que me senti como um peixe fora d’água. Só falta o meu amigo “Gaitinha” colocar um chapéu de “cowboy” e ir lá para o “Bar do Caio” cantar música sertaneja. Se isso acontecer, juro que me mudo para Marte.
Eu moro em Brasília e sou obrigado a ouvir música sertaneja por qualquer lugar que ande. Mas aqui a maioria do povo é de Goiás ou do Nordeste. E essa é a música tradicional deles. De vez em quando levo no “pen-drive” algumas das nossas milongas e vaneiras e as coloco para o pessoal do bar que frequento ouvir. E sempre quase sou corrido da mesa, pois ninguém quer ouvir. Essa é a realidade.
O pior é que essa invasão de coisas que não nos dizem respeito, não começou agora. Certa ocasião fui a um rodeio, não lembro se do Tarumã ou do Caiboaté, e fiquei surpreso com a presença lá de um caminhão de uma companhia de rodeios. Quando da apresentação deles fui embora, pois para mim foi demais ouvir um locutor berrando a plenos pulmões: “Seguuuuuuuura peãaaaaaaao”.

Novos tempos
As mudanças, e para melhor, parece que começaram a acontecer em São Gabriel. Tempos atrás ninguém apostaria um vintém que um dia uma mulher chegaria ao comando de uma entidade tradicionalista, que se sabe (ou sabia) foi sempre uma espécie de “Clube do Bolinha”. Mas depois das eleições da primeira governadora do Rio Grande do Sul e da primeira mulher presidente do Brasil, tudo começou a ficar diferente.
Pois agora a senhora Cátia Beatriz Pedroso Cavalheiro, foi conduzida ao cargo de primeira “patroa” na história da Coordenadoria Tradicionalista Municipal. E eu saúdo isso como um grande avanço, pois indiscutivelmente as mulheres podem ensinar muitas coisas aos homens, inclusive como modernizar entidades tão enraizadas com o passado. E também ajudar a valorizar a nossa música, hoje jogada a um segundo plano.

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