quinta-feira, 26 de abril de 2012

Do Passado para o Presente – a História se Repete (Por Thiago da Costa Firpo)


Estava dia desses lendo Lusardo – O Último Caudilho. Presente - ainda em vida de meu avô – que completaria este ano um século. Do livro, transcrevo parte do diálogo entre Assis Brasil e Baptista Lusardo onde o primeiro responde ao segundo acerca do chamamento do então Presidente de Minas Gerais,
Antônio Carlos, ao apoio de Getúlio Vargas à Presidência da República. Diálogo este que me ajudou a entender o porquê do descontentamento dos Libertadores, com os trabalhistas de ontem: “Nosso Partido, apesar da nossa coragem, não tem força para levar um gaúcho sozinho ao Catete – nem os republicanos. Mas o Rio Grande todo vai pesar na balança(...). É uma união muito difícil: nós teremos que conversar bem com os borgistas e com o Getúlio e saber as condições pelas quais ficaremos agrupados(...); na vida pública todo o homem se vende – depende do que lhe é oferecido como moeda. Uns - não é desses que vou falar, porque são a escória da sociedade – vendem-se por dinheiro; mas há na Inglaterra, na França e nos Estados Unidos, permutas de interesse público – nós precisamos disso e daquilo e poderemos trocar pelo que vocês querem. Vamos apoiar, mas isto tem um preço. E é sobre esse preço que nós vamos conversar com o Dr. Getúlio, com os borgistas(...). Nós temos muitos princípios constantes do nosso programa, que não são diretamente benefícios para mim, nem para você, Lusardo, mas que são em benefício da coletividade, pelo Rio Grande do Sul, pelo Brasil. Queremos o voto secreto, por exemplo. Queremos a implantação verdadeira do regime democrático... Queremos, sim, uma legislação eleitoral que ponha o Brasil de acordo com as nações modernas do mundo. Queremos o voto feminino, porque não é razoável, nem inteligente alienar as mulheres do voto, do processo democrático. Por aí você está vendo das coisas do nosso preço que vamos cobrar aos borgistas: Queremos liberdade no Rio Grande do Sul, eleições livres; favor, não pedimos nem reclamamos; queremos representação e justiça! Queremos o Estado de Direito, a execução da lei (...)- A democracia não foi respeitada para coisa alguma no Brasil - isto não pode continuar... Conseguimos muita coisa em 23.(...) impedindo a reeleição do Presidente, do vice, dos intendentes - havia provisórios com trinta anos no poder... Foi isso que botamos abaixo. É isso que nós devemos tentar no Brasil.” (Grifos nossos).
Em geral, todos creditam à Getúlio Vargas a criação da CLT, do voto secreto e do voto feminino. Esquecem ou não sabem que esse foi o preço cobrado pelos Libertadores para apoiá-lo. Preço este de idéias e de propósitos coletivos, de interesse social; e não monetário e de cunho pessoal ou familiar, como
se vê cobrado em algumas negociatas e privatizações - que só acontecem fora do Rio Grande e nunca bem perto de nós, como dizia um velho professor da Faculdade de Direito da UFRGS.
Getúlio aceitou o preço, ganhou a presidência, terminou com o Partido Libertador, saiu da vida e entrou para a História – a roubalheira ocorrida em seu governo populista ditatorial e sua traição aos que lhe apoiaram foram fatos sempre relegados ao segundo plano, assim como a sua entrega de Olga aos nazistas para morrer torturada no exílio.
A história, por vezes, se repete: por motivações parecidas talvez tenha perdido apoio, o atual governo municipal – para alguns, apenas de pão e circo, como no antigo Império Romano que, quando o povo acordou, esfarelou. E é, por demais, conhecido que as parcerias normalmente se desfazem em razão das partes não honrarem os acordos firmados, pelos motivos mais diversos: seja por falta de palavra empenhada, seja por interesses particulares ou familiares em detrimento do bem coletivo. Quem sabe, os trabalhistas de hoje, assim como os de ontem, não tenham honrado após as eleições os compromissos assumidos anteriormente?
Pois bem, a Era Getúlio e o Império Romano (das farras, do pão e do circo) acabaram como, aliás, tudo um dia termina - a exceção de nossas atitudes, pois essas ecoam na eternidade. Hoje estamos de novo próximos de um pleito eleitoral e o preço político – como desde sempre - estará em breve sendo ofertado por todos. O preço que será cobrado por alguns para apoiar a situação desconheço, porque não pertenço a este lado. Todavia o preço para se estar no grupo de oposição - conheço bem: não será monetário e sim de idéias e de propósitos coletivos alicerçados na vontade popular de mudança de atitudes. Por isso é que acredito estar a oposição caminhando para um entendimento, reflexo do anseio da sociedade – à exceção de um ou outro que, certamente, restarão sozinhos e apartados; porque não há, nesse palco de negociações, lugar para o interesse familiar ou de agregados. O objetivo das pessoas que almejam a mudança é a coletividade, o bem comum, o bem estar de todos e não o bem estar de poucos ou de uma família. O objetivo das pessoas que torcem pelo continuísmo - desconheço, mas, certamente, também deve ser nobre, pois como dizia meu velho professor: há coisas que só acontecem fora do Rio Grande. 

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