Léo Rosa de Andrade
Doutor em Direito pela UFSC.
Doutor em Direito pela UFSC.
Relações amorosas. Ganhar carinho. Desiderato da humanidade. Qualquer ser que padece de dor psíquica, visto o âmago desse sofrimento, padece de falta de amor. O indivíduo que sofre por ausência de afeição necessita de um gesto que o afague. Na busca de relações amorosas, o sujeito procura o outro. Sai ávido, vaga pelos lugares, descobre onde possa haver alguém. Frequenta recintos em que encontra outro, qualquer outro, que também busca o amor. Antes mal acompanhado do que só. Deparam-se, oferecem-se, mas se despedem com a mesma falta do que foram buscar.
Ninguém vai achar ninguém sem se achar primeiro. Não se sabendo, o sujeito que procura se entorpece, mais comumente com álcool. Aliviado de suas censuras, permite-se o gozo do momento. Esse gozo se encerra em si, não é prazer, desemboca em conflito. Outro recurso é autoenganar-se, convencer-se de que esse amor vazio se estenderá no tempo. Esse amor é oco. Tem afagos e satisfaz os corpos, mas é falto de emoção. Não tem conteúdo de relação entre pessoas. Nesse tipo de relação afetuosa, cada qual só se encontra com suas carências. No dia seguinte não tem ninguém além de si.
Não pareça que trago moralismos. Nada disso. Sou a favor da satisfação do corpo. Que os corpos se divirtam. Mas o corpo-eu quer mais do que atender o corpo. Há um mais-de-mim que me compõe e que pede interlocução, algum sentido para o relacionamento. Nenhum relacionamento dá conta de tudo. A vida é mais do que qualquer relacionamento. Todavia carecemos de estar em relação. Roubo de Lacan a expressão Coisa, o que sempre buscamos. Só que aqui a Coisa que falta não é perdida. É a Coisa não achada que faz falta. E a Coisa não achada é o outro. Mas cada qual se ludibria, porque não quer outro para se relacionar; não quer eu mais outro, quer um eu no outro; delira com uma improvável fissão de existências.
É pura ideologia, resquícios do no amor romântico. Romantismo não trata das coisas do amor. É um movimento filosófico e cultural nascido no fim do século XVIII, marcou os séculos seguintes e faz a base ideológica das ilusões amorosas até hoje. Nasceu em oposição ao Iluminismo. Iluminismo é esclarecimento, diversidade. Romantismo quer tradição, perpetuar preconceitos, ignorâncias e dominação. Iluminismo acredita em preservar a individualidade. Romantismo “busca a unidade absoluta entre os amantes...em favor dessa unidade ou identificação sacrifica o sentido autêntico da relação amorosa e sua possibilidade de constituir a base para uma vida em comum” (Nicola Abbagnano, Dicionário de Filosofia, Martins Fontes). O Romantismo dissolve o feminino no mundo-um-só masculino.
Edito Gisela Rao, psicanalista (uol.com.br/comportamento): “o amor romântico traz a idéia de ter de encontrar alguém que te complete. A busca da individualidade caracteriza a época em que vivemos. O amor romântico está saindo de cena e levando com ele a exigência de exclusividade. A ideia de que um parceiro único deva satisfazer todos os aspectos da vida tem grandes chances de se tornar coisa do passado. O ciúme, ele é sempre tirano e limitador. Quem tem a autoestima não supõe que será trocado com facilidade. Controlar o prazer das pessoas é controlar as pessoas. Mas as mentalidades estão mudando. O amor em cada época se apresenta de uma forma. Não tendo mais modelos para se apoiar, abre-se a possibilidade de cada um escolher sua forma de viver.” De minha parte, nada a acrescentar.
Ninguém vai achar ninguém sem se achar primeiro. Não se sabendo, o sujeito que procura se entorpece, mais comumente com álcool. Aliviado de suas censuras, permite-se o gozo do momento. Esse gozo se encerra em si, não é prazer, desemboca em conflito. Outro recurso é autoenganar-se, convencer-se de que esse amor vazio se estenderá no tempo. Esse amor é oco. Tem afagos e satisfaz os corpos, mas é falto de emoção. Não tem conteúdo de relação entre pessoas. Nesse tipo de relação afetuosa, cada qual só se encontra com suas carências. No dia seguinte não tem ninguém além de si.
Não pareça que trago moralismos. Nada disso. Sou a favor da satisfação do corpo. Que os corpos se divirtam. Mas o corpo-eu quer mais do que atender o corpo. Há um mais-de-mim que me compõe e que pede interlocução, algum sentido para o relacionamento. Nenhum relacionamento dá conta de tudo. A vida é mais do que qualquer relacionamento. Todavia carecemos de estar em relação. Roubo de Lacan a expressão Coisa, o que sempre buscamos. Só que aqui a Coisa que falta não é perdida. É a Coisa não achada que faz falta. E a Coisa não achada é o outro. Mas cada qual se ludibria, porque não quer outro para se relacionar; não quer eu mais outro, quer um eu no outro; delira com uma improvável fissão de existências.
É pura ideologia, resquícios do no amor romântico. Romantismo não trata das coisas do amor. É um movimento filosófico e cultural nascido no fim do século XVIII, marcou os séculos seguintes e faz a base ideológica das ilusões amorosas até hoje. Nasceu em oposição ao Iluminismo. Iluminismo é esclarecimento, diversidade. Romantismo quer tradição, perpetuar preconceitos, ignorâncias e dominação. Iluminismo acredita em preservar a individualidade. Romantismo “busca a unidade absoluta entre os amantes...em favor dessa unidade ou identificação sacrifica o sentido autêntico da relação amorosa e sua possibilidade de constituir a base para uma vida em comum” (Nicola Abbagnano, Dicionário de Filosofia, Martins Fontes). O Romantismo dissolve o feminino no mundo-um-só masculino.
Edito Gisela Rao, psicanalista (uol.com.br/comportamento): “o amor romântico traz a idéia de ter de encontrar alguém que te complete. A busca da individualidade caracteriza a época em que vivemos. O amor romântico está saindo de cena e levando com ele a exigência de exclusividade. A ideia de que um parceiro único deva satisfazer todos os aspectos da vida tem grandes chances de se tornar coisa do passado. O ciúme, ele é sempre tirano e limitador. Quem tem a autoestima não supõe que será trocado com facilidade. Controlar o prazer das pessoas é controlar as pessoas. Mas as mentalidades estão mudando. O amor em cada época se apresenta de uma forma. Não tendo mais modelos para se apoiar, abre-se a possibilidade de cada um escolher sua forma de viver.” De minha parte, nada a acrescentar.
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