quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Mistério na morte de funcionário da Urbano no PA24H


Santa Casa instaurou sindicância para apurar suspeita de negligência

A surpreendente morte por parada cardíaca súbita de um jovem pai de família de 31 anos, sem histórico de problemas cardíacos, mais do que uma tragédia pessoal, passa a ser um ponto de interrogação no Pronto Atendimento 24 Horas, local onde morreu Cristiano Sanábria da Silva, após buscar um atendimento médico que, segundo a família, foi displicente e co-responsável pela morte de Cristiano.
A esposa do falecido, Cíntia da Silva Bérgamo, falou na tarde de ontem à reportagem do Jornal Cenário de Notícias. Segundo Cíntia, Cristiano começou a sentir-se mal no começo da madrugada da última segunda-feira, 2 de agosto, por volta da 1h da madrugada, com dores fortes no corpo e nas pernas, o que a levou a pedir ajuda aos vizinhos, que o levaram de carro até o Pronto Atendimento 24 Horas. “Começou quando cheguei lá e não tinha nenhum enfermeiro ali perto pra socorrer ele”, diz a esposa, relatando que a essa altura, Cristiano, embora ainda estivesse consciente, estava com um lado do corpo inteiramente paralisado de dor.
Após certa demora no atendimento por parte da enfermeira plantonista, foi procedido o exame de pressão, a qual foi considerada normal. Mas a impaciência foi maior ao esperar pelo atendimento médico. “Cheguei a perguntar, ‘moça, você não vai chamar o médico? Meu marido está com dor’, e aí ela falou bem ríspido, ‘já chamei’”, diz. Nessa hora, segundo Cíntia, o próprio Cristiano reclamava muito das dores e dizia: “não agüento mais”. Cristiano aguardou por atendimento em uma cadeira de rodas, e precisou da ajuda do sogro e do vizinho para colocá-lo na maca, já que, segundo eles, não havia enfermeiros para auxiliar.
Somente depois de tudo isso teria aparecido o médico plantonista, Boaventura Pinto. Cíntia descreve que o médico, após perguntar sobre as dores e sem um exame mais acurado, ministrou duas injeções, diagnosticando o caso como um problema nos nervos. “Até estranhei, porque ele nunca teve problema nos nervos, ele sempre se tratou de dor na coluna”, diz a esposa. O médico teria então prescrito a receita, que foi ministrada pela enfermeira.
O paciente ficou em observação, ainda se queixando de fortes dores. Em seguida, Cristiano teria começado a vomitar, e a esposa correu à enfermaria em busca de ajuda. “Ela me disse que não ia lá ver ele, porque aquilo era reação da medicação, que era normal”. Cíntia diz ter chamado seu pai para ficar junto com ela na observação. “Quando eu vi, ele abriu os olhos e de repente ficou com o olhar parado. Voltei na enfermaria e a enfermeira, que estava tomando cafezinho, foi ver ele e só aí que chamou o médico, que veio da sala dele, examinou e só me disse que o coração dele parou”.
Cíntia lamenta a negligência no atendimento, que segundo ela, poderia ter salvado seu esposo. O jovem de 31 anos, mecânico na oficina de uma agro-indústria local, deixa, além da esposa, uma filha de seis anos e uma enteada também menor de idade.

O OUTRO LADO

Procurado por nossa reportagem, o médico Boaventura Pinto não atendeu as ligações. Quem aceitou falar sobre o atendimento prestado a Cristiano Sanábria foi o diretor do Corpo Clínico da Santa Casa, Ricardo Lannes Coirolo.
Segundo Coirolo, o paciente deu entrada às 2h59 do dia 2 de agosto, queixando-se de dormência nas pernas e dores nas costas. O exame de pressão constatou freqüência cardíaca normal , e o médico receitou o antiinflamatório Tilatil, com aplicação intravenosa, e injeção muscular do tranqüilizante Valium, nome comercial do princípio ativo Diazepam, receitado para alívio da ansiedade e tensão. Às 3h20, o paciente entrou em óbito em decorrência de arritmia cardíaca. “Realmente não entendemos porque isso aconteceu”, afirmou.
O médico, todavia, descarta que tenha havido negligência no atendimento. “Isso não é verdade. O hospital tinha enfermeiros para atender naquele horário”. O provedor da Irmandade Santa Casa de Caridade, Roque Montagner, informou que será aberta uma sindicância para apurar responsabilidades no caso.

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