O Brasil não é um país sério- Tiago Battaglin

Recentemente, comemoramos com muito entusiasmo o crescimento da nossa economia, que ultrapassou a do Reino Unido e alcançou a sexta posição no ranking mundial. Mas exatamente o que estamos comemorando? Creio que temos muito a aprender com os britânicos, começando pela nossa Justiça. No Reino Unido, 98% dos casos de homicídio são elucidados, e dificilmente o responsável escapará de uma

sentença severa, sem direito aos benefícios processuais que temos por aqui. Recentemente, um levantamento feito pela Associação Brasileira de Criminalística mostrou que no Brasil apenas 5% a 8% dos casos de homicídios são elucidados, o que corrobora sem sombra de dúvidas a impunidade que assola o país. E mesmo com a elucidação do crime, não há garantia de que o criminoso fique atrás das grades, devido à enorme quantidade de recursos judiciais e a demora na conclusão do processo. Basta lembrarmos, por exemplo, o caso do jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves, que após confessar ter matado a namorada Sandra Gomide com dois tiros pelas costas, só foi para a cadeia 10 anos depois de ter cometido o crime, e pouco tempo ficará por lá. Como se sentiram os familiares de Sandra durante dez anos com o assassino solto? Como bem colocou Ruy Barbosa, “Justiça tardia não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta”. Para piorar, todos nós sabemos que casos como esse não são a exceção, e sim a regra. Basta que se tenha dinheiro o suficiente para custear uma penca de advogados que a prisão se torna algo muito distante para um criminoso. Há poucos dias, Carlinhos Cachoeira, líder de quadrilha condenado pela justiça, desfrutava as praias do nordeste brasileiro em lua-de-mel, beneficiado por um habeas corpus, ao mesmo tempo em que José Genoíno, condenado líder do mensalão, tomava posse no congresso como Deputado Federal. E como se já não bastassem os nossos criminosos, o Brasil sempre foi um refúgio internacional para bandidos, como Ronald Biggs, assaltante do trem pagador inglês, e Cesare Battisti, italiano foragido da justiça, agora livre para viver e trabalhar como qualquer outro brasileiro. Está na hora da sociedade se mobilizar e exigir mudanças profundas na Justiça, se ainda queremos ver esse país realmente crescer.