quinta-feira, 28 de abril de 2011

SIMPLESMENTE... Antônia Laísa

TENTATIVAS EM VÃO
Conhecia a Jéssica como a palma da minha mão, sabia o que estava pensando só de olhar em seus olhos. A vi pela primeira vez em um lugar que considero muito triste, principalmente para uma menina de 18 anos, que não viveu metade das maravilhas que o mundo tem a lhe oferecer. Às vezes ficava imaginando se ela estava ali porque gostava do ambiente e do que fazia, ou se a necessidade a obrigava a fingir ser quem não era. Eu aparecia por lá de vez em quando, pois gosto, não das pessoas que freqüentam, mas do clima de novelas e seriados antigos que invade a imaginação da gente enquanto conversa, entre uma cervejinha e outra. Sem falar na sensação de estar fazendo uma coisa proibida, mesmo sabendo o que as pessoas iriam comentar depois.
A Jéssica, loirinha e meiga, não era o perfil de menina que se sentiria bem em um local daqueles. Quem conversasse com ela, saberia o quanto odiava a vida que levava, mas seu rosto tenhava mascarar a verdade.
Depois de nos vermos por várias vezes, certo dia resolvi conversar com aquela menina, e, conhecendo sua história, percebi que ela não era a metade do que fazia com o que os outros pensassem que fosse e, todas as noites, os cafés amargos e o choro a atormentavam quando ficava sozinha. Por curiosidade (não me agüentei) perguntei por que ela não procurava fazer as coisas de uma forma mais correta, ficando por perto de quem realmente gostasse dela e esquecia o jeito fácil, porém triste, no meu modo de vista, de levar a vida. Recebi apenas uma palavra como resposta: “Medo”.
Hoje, cinco anos depois, parei para pensar nessa história e em todas as minhas tentativas em vão, quando tentei ajudá-la a vencer o medo de enfrentar a vida. Acabei fazendo com que as cenas daquela “menina-mulher”, chorando e me contando sobre suas fraquezas e decepções, se transformassem em uma espécie de livro de auto-ajuda em minha vida.
Por medo de tentar mudar, ver o mundo com outros olhos, a Jéssica acabou perdendo a vida, que deveria ser seu bem mais valioso. Hoje eu penso que não se deve perder tempo com coisas mesquinhas, que além de não nos acrescentarem nada, nos machucam com o passar dos dias.
A vida é muito bonita, cheia de surpresas, e o mundo é um gigante. Tenho pena que quem fica sentado no sofá da sala, observando a grama crescer e perdendo minutos valiosos. Eu tive a liberdade, desde criança, para fazer tudo que me fizesse feliz, sem ter medo do que os outros pensam ou falam. Sempre soube distinguir o certo e o errado, e busquei, desde o começo, andar pelas ruas da cidade com a cabeça bem erguida, sem ter vergonha de ser “pobre” ou gritar que tinha dinheiro, assumindo e me orgulhando de tudo que faço, mesmo que tenha, algumas vezes, me deixado levar pela fraqueza de quando o medo tenta nos dominar.

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