Léo Rosa de Andrade Psicólogo e Jornalista.
A dor da solidão, o sentimento de desamparo, tornou-se mal alastradiço. Fala-se em crise de valores: com a queda das certezas ideológicas, as pessoas teriam sobrado sem pauta: cada qual que fosse arranjar o próprio sentido da vida. Como a vida não tem sentido que não seja sentido dado, ou historicamente inventado, muita gente se perdeu. Ou se encontrou em sítio que não é igual, mas é a mesma coisa. Conheço ex-marxista que, na falta de céu na terra, virou pastor. Promete céu noutro lugar. Não me parece uma boa alternativa, seja porque a proporção de alinhados aos salvacionismos laicos era escassa, seja porque a atualidade oferece muito mais valores do que o passado. Ecologia, igualdade de gênero, batalha ao racismo, combate à corrupção são causas em debate público e com significativa militância. Suspeitou-se que o anonimato do indivíduo avulso nas multidões das grandes cidades seria opressivo. Pode ser, mas o fenômeno não poupou os pequenos lugares. Consta que os gregos evitavam que suas urbes crescessem acima de cinquenta mil habitantes, com medo de deterioração da qualidade de vida. De fato, ser ninguém numa megalópole deve ser desagradável, mas pior é ser ninguém em uma cidadezinha. Acusou-se a oferta de coisas a serem desejadas, mas que nunca são alcançadas. Tem propaganda de tudo, para todo mundo, mas o todo mundo não tem meios para quase nada. Deve ser frustrante constatar a incapacidade de comprar o algo com que se nos seduziu. Todavia, não há dados para sustentar a hipótese, e solidão não escolhe classe social. Melhor ser triste rico do que pobre, mas isso não me garante companhia significativa. Talvez a longevidade... A evolução leva eras para formar as condições de sobrevivência de um organismo. A humanidade, contudo, em meio século, dobrou o seu tempo médio de vida. Só ainda não aprendeu a curtir essa existência longa. Mas há alguns milênios existem longevos, ou seja, já havia a condição genética. Hoje existem mais idosos apenas devido às oportunidades ambientais. E as angústias atingem indistintamente velhos e jovens. Patrícia Pozza (A importância da vida de relação, Notisul, 04abr11) e Dráuzio Varela (Solidão Crônica, FSP, 23mar11) alertam para a degradação orgânica, cerebral inclusive, do solitário. Patrícia sugere “empenho para o incremento e as aquisições na vida de relação, na vida afetiva.” Dráuzio diz que “criamos possibilidades ilimitadas de interações sociais, mas que, contraditoriamente, o contingente dos que se queixam da falta de alguém com quem compartilhar sentimentos íntimos aumenta em todos os países.” Nunca se rematou o assunto. Não sei e quase concluo que ninguém sabe o que fazer. Se eu tivesse que sugerir pressupostos, apostaria em duas coisas: não há solução individual para as dores do mundo; crendices ideológicas e religiosas não levam a bom lugar nenhum. A humanidade será o que a humanidade, coletivamente, fizer dela. O “próximo” não merece piedade, ele tem, sobre todas as coisas, o mesmo direito que tu te dás a ti.
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