Léo Rosa de Andrade
Psicólogo e Jornalista.
Perguntou-se a um branco se ele era casado com uma negra. Ele respondeu que era casado com uma mulher. Uma resposta civilizadora. Hoje é um tanto comum encontrarem-se casais miscigenados. Não só brancos e pretos formam pares coloridos, mas igualmente misturam-se pretos ou brancos com amarelos, enriquecendo-se as cores das gentes do mundo. Mas ainda há preconceituosos renitentes, parados no tempo, a discutir raça ou cor.
Era início dos anos 60. Um senhor dispendeu a manhã para ajeitar-se. Barba escanhoada a navalha, terno de linho, sapatos lustrados, chapéu. Era correto e adequado ao seu tempo. Tinha compromisso de negócios. Saiu para tomar condução. Cruzou com alguém de cor negra. Suspendeu a viagem e trocou-se para os afazeres. Um negro no primeiro lance era sinal de azar.
Agora, nas bordas do ano 10 do século seguinte, em Ribeirão Preto, SP, três jovens brancos, acadêmicos de medicina, o que não é pouca coisa, agridem, sem mais nem menos, um senhor negro que passa, cometendo o pecado de tão só por ali passar. Rematam a ofensiva física com o que consideram um insulto moral: negro! Gritam para o negro que ele é negro, de boca cheia, babando parva hostilidade.
Racismo é ignorância, mas também é poder. Poder real e poder simbólico. O racista ignorante desconhece as mais comezinhas lições de genética. É simples: o negro é a progênie, a raça matriz. As demais são adaptações ao ambiente. A mãe de Obama é branca, o pai é negro. Para descartar qualquer concepção de superioridade branca, basta ver qual cor prevaleceu na pele do pequeno (grande) Barak. Ele é negro.
Sendo poder, racismo é definido pelos poderosos. Comparem-se africanos e japoneses. Os nipônicos, imigrantes, foram estabelecidos em condições análogas às de escravo. Contudo, detinham tecnologia e organização de grupo, e valorizavam os estudos. Seus descendentes disputam o topo social. Os africanos, trazidos à força, nunca tiveram esses “suportes”. Sua descendência tem salário, escolaridade e expectativa mais baixos dentre os brasileiros.
Simbolicamente a discriminação se acentua. Os japoneses têm artes marciais, medicina, culinária, alta tecnologia, filmes com super-heróis, ninjas e samurais. O Japão é uma potência econômica. A África, por sua vez, não é exatamente um sucesso. Só recentemente veem-se negros, poucos, podendo afirmar socialmente a negritude.
Se isso não bastasse, a confissão católica, religião oficial no período escravocrata, legitimou a ideia de que negros não tinham algo que chamam de alma. Era a licença moral para que os interesses econômicos os fizessem gado, escravos, mão de obra barata, “vagabundos” e, finalmente, favelados.
Por tudo isso, não é fácil. Mas o homem agredido, negro, aos 55 anos honra a função de auxiliar de serviços gerais. Os seus assaltantes foram presos. E foram soltos. Sofreram suspensão na Universidade. Creio que o Judiciário a anulará. Talvez se safem das penas da Lei. Mas seus pais, vizinhos, colegas, professores, namoradas, e eles próprios, sempre saberão o que aconteceu. Ah, e se gerarem filhos, que vivam eternamente com medo de que as crianças saibam e se envergonhem de um pai racista.
Psicólogo e Jornalista.
Perguntou-se a um branco se ele era casado com uma negra. Ele respondeu que era casado com uma mulher. Uma resposta civilizadora. Hoje é um tanto comum encontrarem-se casais miscigenados. Não só brancos e pretos formam pares coloridos, mas igualmente misturam-se pretos ou brancos com amarelos, enriquecendo-se as cores das gentes do mundo. Mas ainda há preconceituosos renitentes, parados no tempo, a discutir raça ou cor.
Era início dos anos 60. Um senhor dispendeu a manhã para ajeitar-se. Barba escanhoada a navalha, terno de linho, sapatos lustrados, chapéu. Era correto e adequado ao seu tempo. Tinha compromisso de negócios. Saiu para tomar condução. Cruzou com alguém de cor negra. Suspendeu a viagem e trocou-se para os afazeres. Um negro no primeiro lance era sinal de azar.
Agora, nas bordas do ano 10 do século seguinte, em Ribeirão Preto, SP, três jovens brancos, acadêmicos de medicina, o que não é pouca coisa, agridem, sem mais nem menos, um senhor negro que passa, cometendo o pecado de tão só por ali passar. Rematam a ofensiva física com o que consideram um insulto moral: negro! Gritam para o negro que ele é negro, de boca cheia, babando parva hostilidade.
Racismo é ignorância, mas também é poder. Poder real e poder simbólico. O racista ignorante desconhece as mais comezinhas lições de genética. É simples: o negro é a progênie, a raça matriz. As demais são adaptações ao ambiente. A mãe de Obama é branca, o pai é negro. Para descartar qualquer concepção de superioridade branca, basta ver qual cor prevaleceu na pele do pequeno (grande) Barak. Ele é negro.
Sendo poder, racismo é definido pelos poderosos. Comparem-se africanos e japoneses. Os nipônicos, imigrantes, foram estabelecidos em condições análogas às de escravo. Contudo, detinham tecnologia e organização de grupo, e valorizavam os estudos. Seus descendentes disputam o topo social. Os africanos, trazidos à força, nunca tiveram esses “suportes”. Sua descendência tem salário, escolaridade e expectativa mais baixos dentre os brasileiros.
Simbolicamente a discriminação se acentua. Os japoneses têm artes marciais, medicina, culinária, alta tecnologia, filmes com super-heróis, ninjas e samurais. O Japão é uma potência econômica. A África, por sua vez, não é exatamente um sucesso. Só recentemente veem-se negros, poucos, podendo afirmar socialmente a negritude.
Se isso não bastasse, a confissão católica, religião oficial no período escravocrata, legitimou a ideia de que negros não tinham algo que chamam de alma. Era a licença moral para que os interesses econômicos os fizessem gado, escravos, mão de obra barata, “vagabundos” e, finalmente, favelados.
Por tudo isso, não é fácil. Mas o homem agredido, negro, aos 55 anos honra a função de auxiliar de serviços gerais. Os seus assaltantes foram presos. E foram soltos. Sofreram suspensão na Universidade. Creio que o Judiciário a anulará. Talvez se safem das penas da Lei. Mas seus pais, vizinhos, colegas, professores, namoradas, e eles próprios, sempre saberão o que aconteceu. Ah, e se gerarem filhos, que vivam eternamente com medo de que as crianças saibam e se envergonhem de um pai racista.
Meus parabéns a Cenário,por abordar essa matéria sobre o racismo pois nos dias de hoje o preconceito ainda existe,não é a cor da pele que vai mostrar o que somos,mas o caráter de cada um,abraços a toda a equipe e mais uma vez parabéns a todos
ResponderExcluir