segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Fome em sua própria geografia

Geder Parzianello
Professor da Universidade Federal do Pampa
Atualmente, paga-se 100 dólares da Namíbia a todos os seus habitantes, o equivalente a 10 dólares norte-americanos ou 12 euros como forma de amenizar a pobreza da população e fazer frente à fome que dilacera o País. O governo da Namíbia criou um programa de Renda Básica para combater situações de fome aguda e a medida, embora não resolva a situação ainda assim concede um mínimo de dignidade a quem tem nada ou realmente muito pouco.
Em 2003 estive na África e vi de perto uma realidade de fome e miséria. Não era a África do Sul, esta dos estádios da Copa do Mundo e do hotel mais caro do mundo. Era a realidade de um país mais a Leste, Moçambique, na costa do Pacífico, próximo a Madagascar. Recordo a forma como mulheres esqueléticas seguravam bebês em seus braços, sentadas nas calçadas, olhos fundos e corpos fracos. Recordo a forma como os habitantes, maioria homens e muito jovens, se atiravam sobre os carros, sabendo que ali havia estrangeiros e a chance de algumas moedas.
No Brasil, não dou esmolas. Mas em relação à Namíbia e Moçambique eu senti uma enorme diferença. A fome não era de quem não tinha o que comer. Era um pedido de socorro.
No Brasil, salvo exceções, claro, quem pede esmolas levou uma vida sem apego ao trabalho ou já não quer trabalhar. Há pouco tempo ofereci a um senhor que pedia esmolas um prato de comida em troca de um trabalho de cortar grama. Nunca apareceu no local combinado. Quem sabe outro dia, quando a fome dele voltar, ele mude de idéia.
Bom mesmo seria se ele mudasse de vida. Como o brasileiro se reconhece solidário, o fato é que tem gente que abusa e merecia ser preso. É o caso de uma mulher em São Paulo, que pedia dinheiro alegando problemas com o carro e uma urgência qualquer e arrecadava em média 30 reais por dia. Depois pegava um táxi e ia para casa. A imprensa denunciou a prática ilícita. Mas ela foi liberada. E vai continuar aplicando em gente inocente pelas ruas. A fome de cada um tem sua própria geografia.

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