sábado, 31 de março de 2012

O EXEMPLO DO ROQUEIRO ROGER WATERS


Admiro quando pessoas já bem sucedidas em seus ramos profissionais demonstram publicamente engajamento à questões da coletividade. A postura trivial de alguém famoso e bem sucedido financeiramente é ficar atento apenas a manutenção ou ampliação do seu status e do seu reconhecimento. Pois no último final de semana, o Rio Grande
do Sul foi palco de uma importante ação política feita pelo roqueiro Roger Waters, ex-vocalista da reconhecida banda Pink Floyd. Confesso que acompanho pouco a carreira de Waters por ter um gosto musical voltado mais para as canções nativistas, Raul Seixas e as da MPB. Mas fã ou não dele, há que se aplaudir a postura deste roqueiro que aproveitou o seu show, acompanhado por 48 mil gaúchos em Porto Alegre, para desfraldar a bandeira do combate a todas as formas de terrorismo de estado. Em nenhum momento o seu show perdeu qualidade musical por isso. Pelo contrário, ganhou em humanidade e em conscientização pelo simples fato de ter mexido com a cabeça das muitas pessoas que foram assistir a seu espetáculo musical. Também simbólico e engajado foi o ato de dedicar o show em Porto Alegre ao brasileiro Jean Charles de Menezes, brutalmente assassinado de forma equivocada pela polícia de Londres em 2005 ao ser confundido com um terrorista. No momento que grande parte da mídia e da sociedade brasileira começava a se esquecer deste duro episódio surge Waters e nos fazer lembrar que jamais podemos apagar fatos como este de nossas mentes. Enquanto a desigualdade, a intolerância, o racismo, o preconceito e a violência detiverem o espaço que ainda acumulam hoje ninguém pode se despreocupar e imaginar que vivemos em um mundo equilibrado. Amanhã eu, você, o amigo ou o irmão pode ser um Jean Charles, confundido com algum terrorista na esquina de alguma cidade.
Pois algumas horas antes do roqueiro subir no palco em Porto Alegre e pautar estas reflexões, um grupo de 500 jovens paulistas demonstrou o quão legítimas e atuais são as palavras de Waters contra a violência institucionalizada de hoje. Em plena luz do dia, torcedores do Corinthians e do Palmeiras, munidos de barras de ferro, porretes e até revólveres, digladiaram-se em uma avenida da zona Norte de São Paulo sob o argumento que eram identificados com dois times de futebol diferentes. Algum desses vândalos atingiu o seu objetivo ao acertar um tiro na cabeça de um rapaz de 21 anos, que veio a falecer. Este jovem morreu de fato, mas imagino quantos mais poderiam ter morrido no momento que centenas de pessoas se põem a brigar com tamanha violência que nem mesmo as forças policiais que estavam no local conseguiram interromper a pancadaria. Mas fiquemos no bom exemplo do último final de semana. Que mais gente repita Roger Waters ou que repita o ator George Clooney, que dia desses chegou a ser detido nos Estados Unidos por protestar contra a violência no Sudão. Sair da zona de conforto para formar consciências cada vez mais brutalizadas pela competição, drogas e pela desagregação familiar é um dever hoje para todos àqueles que reúnem condições de serem escutados neste mundo ainda bastante surdo para as diferenças e para a tolerância.

TEXTO DO DEPUTADO VALDECI OLIVEIRA

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